domingo, 23 de agosto de 2009

Fim de semana

Meu fim de semana começa na sexta. Pra muitos também, pra outros só no sábado.

Sendo assim, vamos começar pelo começo: a sexta.

Na sexta-feira eu tinha seis visitas marcadas. A primeira foi tranquila, na Lapa. Blábláblá e nada de sair contrato.

Depois fui pra Osa. Agência de Turismo. A mulher A-M-O-U e não assinou. Um caralho.

Osa/SP. Na divisa mesmo. Meu primeiro contrato saiu pra uma empresa de recarga de cartuchos. O cara tem 7 lojas espalhadas pela capital e interior e assinou o contrato mais barato. Mas é o que a Fernanda fala: "Melhor um módulo na mão do que uma página voando".

Foi lindo: tremi, suei, gelei, gaguejei e preenchi a tal folha.

- Número do cartão, por favor (eeeeeeita porra!)

- XXXXXXXX-XXXX

- Código de segurança?

- YYY

Caraca. Eu parecia estar com Mal de Parkinson.

Saí da loja feliz da vida. Já tava sentindo a grana entrando no bolso. Mas eu precisava de mais. Aliás, preciso.

Próxima visita: Vila Gomes. Onde Judas deixou o cu, de tanto medo de tomar um balaço nos córneos. Eu já tinha ido na Vila Gomes na quinta. Conheci um senhor muito simpático - apesar de extremamente pobre - por lá. História pra outro post.

Foi terrível. Subi uma ladeira que deixava a da Brigadeiro Luiz Antônio parecendo uma Avenida Paulista. Começou a chover. A questão é que eu trabalho com uma pasta que pesa mais ou menos 3kg. Parece pouco, mas andar com isso o dia inteiro já trouxe calos para as minhas mãos de princesa.

Cheguei no cume da montanha. Pensei em fincar uma bandeira, já que a impressão era de lugar nunca antes visto por um humano, mas desisti... já estava muito atrasada. Um portão, sem campainha. Bati palmas. Uma mulher apareceu e eu perguntei:

- É aqui a empresa de transportes XPTO? Do seu Fulano?

- Não é aqui não. Sobre o que seria?

- Eu vim falar com o seu Fulano. Marquei uma reunião com ele. Aqui não é a Av. Onde Judas Perdeu o Cu? Número 666?

- É sim. Vou chamar a mãe dele.

Pensei comigo: a porra da mulher não tinha dito que não era aqui? Agora é e o homem tem até mãe? O que o nome de uma grande empresa não faz...

Apareceu uma velha horrenda. Um cabelo desgrenhado, já quase todo branco. Uma roupa suja, gasta. Estava de Havaianas e pude ver suas unhas do pé. Enormes e sujas. Ela comia alguma coisa e uns pedaços brancos saíam de sua boca. Pra quem assistiu "Arraste-me para o Inferno", era a PRÓPRIA velha do filme. Juro.

Senti um pavor indescritível.

- Quem é que quer falar com o Fulano? É da Prefeitura?

- Não, senhora. Eu sou representante do CREA e marquei uma reunião com seu filho aqui. Estou um pouco atrasada... ele está?

- Ele num tá não, fia. Saiu com o Fulaninho pra fazer um carreto. Num sei que horas volta.

- Mas... mas eu marquei com ele!

O pessoal que estava no portão, achando que eu era da Prefeitura, sumiu junto com a velha. Ninguém me chamou pra entrar.

Lá de dentro ela gritou:

- Vou ver se consigo falar com ele. Espera aí.

E eu: claaaaaro que vou esperar. Olhei pelo portão entreaberto e vi montes de merda de cachorro no quintal. "O que caralhos estou fazendo nessa pocilga?"

Liguei pra minha gerente. Disse que aquilo não ia dar em nada. Ela me mandou esperar um pouco mais, porque havia acabado de falar com o Fulano e ele confirmou que estava indo pra lá, junto com o Fulaninho. Esperei.

Apareceu um moleque um pouco mais apresentável que os demais e me convidou para entrar. Só quando cheguei no quintal que percebi tratar-se de uma espécie de "cortiço". Fui até os fundos e entrei na casa da velha. Maldita hora. A casa fedia. Um cheiro nojento de mendigo, de coisa suja, de gente que não toma banho. Segurei pra não vomitar ali, no chão da "cozinha". A velha me chamou pra entrar num quartinho, onde havia uma beliche, uma mesa e uma cadeira. Sentei na cadeira e ela tentou, mais uma vez, entrar em contato com o Fulano. Apareceu na porta um homem, visivelmente com problemas mentais. Todo sujo, passando as mãos na parede e dizendo repetidamente:

- Fulano não tá em casa... ele saiu... acho que não volta hoje.... E um olhar perdido. Fiquei assim... CONGELADA de medo.

A velha, não conseguindo falar com o cara, encostou a porta e saiu. O cara saiu junto com ela. Fiquei sozinha ali, olhando praquele chão imundo.

- Senhora! Ô senhora! O cachorro tá preso? É que eu já vou indo. Não vou esperar seu filho chegar porque ainda tenho outra visita pra fazer hoje.

- Tá preso sim, fia. Pode vim.

Saí e dei o telefone pra ela. O cara, se tiver interesse, liga.

Desci a mesma ladeira quase aos prantos e fui continuar minha aventura por esse Brasil. Peguei um ônibus, já estava quase escurecendo. Tinha que descer perto da Raposo com a Politécnica. Deu tudo errado. Desci em frente a Oetker e liguei na hora pra minha gerente.

- Carla, tô no meio da Raposo e não tenho ideia de onde ir.

- Vou ligar pra Ciclana. Calma.

Ela ligou e a mulher disse que eu teria que voltar, sentido Pinheiros, descer em frente ao Shopping Raposo, atravessar a passarela, seguir até a Decathlon e entrar na segunda à direita.

- Carla, acho que não quero ir nessa visita. Tá de noite, já passei por poucas e boas hoje...

- Jackie, faz assim: vai pra casa. Eu ligo de novo e desmarco. Você já tirou um contrato hoje e eu não quero você zanzando pela Raposo Tavares de noite, procurando rua!

- Brigada, Carlinha! Te amo.

Na volta pra casa passei no Eldorado, namorei uns sapatos novos, chorei um pouco no banheiro e fui pegar meu ônibus. Cheguei exausta, podre, morta e enterrada.

Dormi. Dormi e acordei durante a noite muuuuitas vezes. Tudo doía.

Passei o sábado no hospital. Resultado: infecção urinária e duas semanas de antibiótico.

Um comentário:

DJ Felipe Menezes (jahvann) disse...

Calma... mais contratos virão... =D adorei o longo post. longo mas ótimo de ler =D beijo