sábado, 15 de janeiro de 2011

A Hora da Estrela

"Nunca pensei em como morreria..."

Eu JAMAIS me importei de que forma ou em que época se daria o meu fim. Não se trata de hipocrisia ou de desapego à vida, mas e tão somente de uma despreocupação despretensiosa, ou de um imaginário pueril que sempre me levou para outros mundos que não este.

Essa semana, porém, eu estive perto de um "fim". Se não um fim definitivo, um fim de mim em mim mesma.

Passamos, nós, pessoas, por coisas diversas ao longo dos dias. Bonitas, intrigantes, horríveis, tristes. E passamos. Foi o que se deu comigo. Sofri um assalto em frente ao trabalho.

(Qualquer pessoa normal chegaria até aqui e se perguntaria: 'nossa, pra quê tudo isso? Só pra dizer que foi assaltada? Que boba!')

Levaram meu carro - sim, meu lindo golzinho vermelho que um dia, cheia de alegria e orgulho eu confidenciei aqui ter adquirido -, minha bolsa, meus documentos, meus telefones, meus cds, meus sapatos, minha roupa do ballet, minhas sapatilhas. Minha sapinha. Minhas notas de pedágio. Meu guarda-chuva. Minha vida cor-de-rosa. Minhas lembranças com aquele carro. Meu brilho nos olhos.

Me deixaram descalça e despida de sonhos. Me apontaram armas. Pra mim, que não gosto nem de matar baratas. Não entendi. Não entendo.

Acharam meu carro. Feio. Não era mais meu lindo golzinho vermelho. Era um carro qualquer, sujo de lama. De pegadas. Sujo de gente ruim. Usado e abusado por homens-demônios. Realmente feio. Nojento. Repulsivo assim como aqueles que dele se utilizaram para fazer, com certeza, coisas não-boas.

Nunca haviam levado de mim nem um vale-transporte. É humilhante estar só e descalça no meio da rua, após sofrer esse tipo de coisa. É frustrante pedir para um policial deixar você descer na porta da delegacia e ele alegar que ali é área apenas da polícia. Pior é questionar o fato de poder sofrer outro roubo e ouvi-lo dizer ali, na sua fuça: "aí já não é problema meu". Assim, seca e sadicamente. Odeio bandidos. Igualmente odeio também a nossa polícia.

Hoje é sexta-feira. Recebi o tão esperado netbook. Posso voltar a escrever a hora em que bem entender. Posso compartilhar dores e alegras aqui, onde eu descarrego o que não me deixam falar. A semana acabou como se tivessem retirado um piano de cauda das minhas costas.

Amanhã tenho o show da Diva Winehouse. Estou ouvido Janelle Monáe. Lembro dos olhos dele. Do cheiro dele. Do toque que gela meu sangue dentro das veias e que me faz esquecer que a existência é tão miserável.

Estou viva.

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